my vagina in the sky

dizem que o verdadeiro amor já não existe. o amor puro, sabem?
e fala-se nisto com argumentos como: "já não se cometem loucuras como antigamente", "o divórcio aumentou", "o casamento diminuiu", e blá blá blá.

eu era da mesma opinião. até que pensei...
então porque raio há pessoas doentes por outras? porque é que há pessoas que se apaixonam loucamente em dias, semanas? porque é que há pessoas que acabam no psicólogo com depressões em nome do amor? porque é que há pessoas que deixam de se reconhecer a elas próprias?
e eu pensei "que visão mais romântica e desculpável de se ver as coisas".
e se pusermos as coisas vistas doutra maneira?

a sociedade evoluiu. se a sociedade evoluiu, porque se espera que o amor puro seja demonstrado como antigamente? antigamente muitas vezes as pessoas eram forçadas a casar com alguém que o pai decidiu. antigamente não havia divórcios. antigamente muitas vezes era preciso ser se romântico e gentil para o pai permitir o casamento. antigamente fodia-se às escondidas porque não era permitido. antigamente tinha de se fugir com o amado caso não fosse aceite pelo resto. antigamente era romântico umas flores e um jantar à luz das velas. e hoje? hoje, flores e um jantar à luz das velas é visto como um acto comum. hoje há liberdade suficiente para não termos de fugir com o amado. hoje fode-se quando e onde se quer. hoje é se gentil quando se quer ser. hoje há muitos divórcios, e muita gente que não casa em nome do amor, mas em nome da economia que dá mais jeito. porque é que se toma como adquirido que o amor tem de ter um final feliz? o amor não tem de resultar para ser amor puro. o amor não tem de ser eterno para ser amor puro. o amor não tem de resultar em casamento para ser amor puro. o amor não tem de ser exposto para ser amor puro. pelo menos, não para mim. o amor puro, quanto a vocês não sei, mas para mim, é aquele que te faz amar o outro de qualquer maneira. é aquele que tu aceitas os defeitos do outro. faz te querer cuidar e olhar pelo o outro à maneira duma mãe, dum irmão, dum amigo, dum amante. é aquele que te faz sentir completa. é aquilo que sentes necessidade de partilhar tudo. é aquele que te parte o coração à mínima coisa. é aquele que te faz vulnerável. é aquele que te faz sentir incompleta também. se ele está assim tão extinto, então porque é que se perde tempo à procura dele? se acham que o amor puro é impulsividade e espontaneidade, então o que melhor pode demonstrar tal coisa do que beijos ao virar da esquina, ou sexo ao mínimo desejo, ou casamentos mal pensados? claro que hoje também há a liberdade de beijar, sexar, e casar ao mínimo desejo sem qualquer amor. mas o que é certo é que o amor não se distingue pelo tempo que dura, ou pela maneira como se expressa, ou pelo casamento ou pelo divórcio. o amor puro existe pela intensidade em que se ama o outro. aliás porque é que o amor puro tem de ser entre um casal? porque não se considera amor puro apenas uma pessoa que ama outra mas pode não ser retribuída da mesma maneira? o amor puro existe pela intensidade vivida. e isso não mudou. tudo o resto mudou: o contexto, as pessoas, a maneira de ser transmitida.

porque está o amor puro condenado, afinal? porque não existe realmente, porque há liberdade para tudo, porque não está à vista de qualquer um, porque somos seres racionais, ou porque somos pessimistas?